quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O fio

Linha
costura ideias conceitos

Pincel
pinta cores quentes frias

Revela figura
desenha TRI
/
__ângulo

Sentido da vida

Linha

do A-M-O-R

domingo, 18 de setembro de 2011

GINETE


GINETE Izabel Eri Camargo



Montada no tordilho com uma sela nova, amarelinha, sentia-me poderosa. Aprendi a lida do campo, corria pelas campinas. O ano passado, visitei uma fazenda e disse para meu primo que sentia saudades de cavalgar. Ele convidou-me para fazer uma campeiragem, Aparelhou um cavalo para mim e disse:
¬ O cavalo é manso, podes passear por perto da casa, porque eu vou reunir as ovelhas e dar sal para o gado, depois venho para irmos ver a tropa de bois, no outro campo.
Pensei: andar sozinha perto da casa não tem muito a ver, então disse:
¬ Eu gostaria de ir contigo agora, posso?
¬ Será que consegues galopar? Eu preciso andar rápido, vou levar o gado para o rodeio.
Criei coragem, lembrei-me do passado e arrisquei, dizendo:
¬ Acredito que sim.
Segurei-me nas crinas e montei no cavalo baio. Eu e José saímos a trote, um ao lado do outro, conversando. Ele abriu a porteira, entramos na invernada e encontramos, na baixada, o rebanho de ovelhas. Olhou-me e comentou:
¬ Estão as cinquenta, podemos continuar para reunir o gado.
Segui olhando tudo, enxerguei umas reses devon, outras charolês, extraviadas, pastando. Segui a trote, mas logo tive que galopar, para ajudar a reunir o gado e conduzir ao rodeio. José colocou sal nos cochos, conferiu a aparência dos animais e viu que estavam todos sãos. Convidou-me para retornar a casa e comentou alegre:
¬ Eu estava com medo que tu caísses do cavalo, mas enganei-me, és cavaleira!
¬ É... Faz anos que não monto, mas em criança ajudava a reunir o gado e levar para a mangueira no dia de marcar e de vacinar.
Seguimos jogando conversa fora, passamos por dentro de um riozinho onde os cavalos beberam água.
Chegamos a casa, apeei do cavalinho baio, com as pernas duras, encarangadas; fiz um alongamento e entrei pela cozinha. Senti um cheiro de dar água na boca. Ao meio dia, almoçamos um churrasquinho com carne assada no forno. Uma delícia!
Falamos das recordações do tempo de criança e das minhas andanças no cavalo tordilho-marchador. Conversa descontraída, cheia de brincadeiras sobre a minha atual façanha. Domingo, ao final da tarde, embarquei no meu carro, cheguei à cidade mais rápido do que se andasse a galope.
Os tradicionalistas ficaram sabendo da cavalgada e me convidaram para o desfile de vinte de setembro –“ Dia do gaúcho”. Aceitei. Vesti-me a rigor; vestido de prenda, com modelo desenhado para tapar a anca do cavalo.
Entregaram-me um potro malacara, pelas rédeas - um lunático de Carlos Gardel. Percebi que era redomão, tentei agradá-lo, passei a mão no pelo, falei mansinho. Difícil! O bicho mirava-me de soslaio. Ligeiro de patas! Tentei montar sem medo; firmei as rédeas, segurei-me nas crinas, coloquei o pé no estribo e, quando alcei a perna, o potro negou-se; derrubou-me!
Levantei-me com as rédeas na mão e saí andando, troquei o cavalo pelo carro alegórico. O motorista era domador, montou o potro. Eu dirigi o carro, no qual a cuia passava de mão em mão; a música e o canto do Negrinho do Pastoreio causavam delírio no povo. A ressonância dos aplausos fazia-me acreditar na beleza da indumentária e na garra da gauchada. Ao final do desfile, cantando Prenda Minha, com o coração desgovernado, ouvi o anúncio do primeiro lugar para meu carro alegórico. Fui ao palanque. Recebi o prêmio. Declamei um poema gauderio em homenagem ao ginete.

Os raios de sol
aquecem o camponês
dizem a hora.